sexta-feira, março 11, 2005

O mais delirante elogio a Mourinho de que me consegui lembrar

Agora que o Mourinho já não está no Porto e continua a arrecadar vitórias em Inglaterra, a unanimidade em torno da sua figura é indiscutível. Ele é o melhor treinador do mundo, ele é o campeão da táctica, ele é o mestre do jogo psicológico, ele é o imaparável português que mete os ingleses no lugar, e muito brevemente o mundo inteiro com eles, ele é o homem mais cool de Londres, ele é o homem que Portugal devia ter ao leme, ele é o homem que todos os homens deviam ser e o homem que todas as mulheres deviam ter. Enfim, não há nada que o Mourinho não faça, não há ninguém nas redações dos jornais (quaisquer que eles sejam, desportivos, generalistas, semanários, vespertinos, de economia, cor de rosa, etc.) que não mencione o Mourinho nas suas crónicas e artigos pelo menos uma vez por mês, quando não uma vez por semana, seja qual for o tema dos mesmos. O cúmulo são os comentadores dos jogos de futebol do Chelsea: admira-me que ainda não tenham oficializado a nova fé religiosa com o Mourinho no altar e eles próprios os seus auto-propostos vigários.
A Ideiateca junta-se agora ao coro de elogios ao português mais famoso do Mundo (o Eusébio que se deixe de ideias).

Os irredutíveis do Chelsea jogam no estádio de Stamford Bridge. Em 1066 Harald Hardrada, rei dos noruegueses, invadiu a Inglaterra pelo Leste com o intuito de destronar Harold, último rei saxão da Inglaterra. Estava tudo a correr bem quando chegou a Stamford Bridge, onde foi surpreendido pelos locais e não só foi derrotado como encontrou aí a morte, graças à táctica bestial do seu inimigo. Antes da batalha, o arauto dos nórdicos perguntou a Harold que concessões estava disposto a fazer, e que tinha para oferecer a Hardrada. Respondeu: "Seis pés de terra inglesa, e como é tão alto, mais um."
Também o Mourinho, que já teria sido aclamado rei pelos seus se a Inglaterra não tivesse já uma raínha, replicou antes da batalha: "Enquanto treinador o meu currículo é brilhante, e o do Rijkaard é zero". E em Stamford Bridge acabou também a aventura forasteira dos visitantes (só é pena o lamentável erro histórico de serem espanhóis e só terem um nórdico, que ainda por cima é sueco e anda lesionado).
Nesse mesmo ano, Guilherme O Conquistador, duque da Normandia, atacou pelo sul, destroçou o exército de Harold e tomou o trono para si. E assim criou o perfeito cenário para a maior proeza que o Mourinho poderá cometer: é que na próxima eliminatória, o Mourinho não se vai deixar intimidar pelo novo invasor e, caso vença, terá destruído o ciclo da História e iniciado uma nova era!!!
Espero é que depois disso os jornalistas compreendam que qualquer acontecimento empalidece ao lado deste, e deixem de de repetir aquele irritante "Estamos a viver um momento histórico!" em metade das reportagens em directo no Telejornal.