segunda-feira, março 14, 2005

Esse est percipi

Em todo o mundo existem dezenas de conflitos armados, dos quais a maior parte decorre no interior das fronteiras de países com facções rebeldes, enquanto o número de conflitos entre estados é, desde a II Guerra Mundial, o mais baixo da história das relações entre estados-nações.
Para conhecermos os episódios, actores e vítimas desses conflitos dependemos quase em absoluto dos repórteres de guerra que as televisões, jornais e agências enviam para as zonas de combate. Todos os anos existe uma guerra que é mais mediática que as outras, quase sempre aquela em que o exército dos Estados Unidos está envolvido. Na guerra do Iraque estiveram presentes mais repórteres do que em qualquer outra guerra da História, e ainda assim, de todas as imagens mostradas diariamente nas televisões só cerca de 15 a 20% tinham sido recolhidas por repórteres de imagem nesse dia. A maior parte eram imagens de arquivo, de dias anteriores ou fornecidas pelo próprio Pentágono.
Manter um repórter numa zona de guerra não é nada barato. Entre despesas de alimentação, viagens, alojamento, subornos, material de reportagem, aluguer do satélite, etc., cada repórter gasta em média centenas de euros por dia. Devido aos custos, falta de interesse mediático ou de pessoas dispostas a cobrirem guerras mais... "selvagens" que a do Iraque, existem guerras que passam quase despercebidas aos nossos olhos e ouvidos. Só as grandes agências como a Reuters ou a Associated Press conseguem cobrir um grande número de conflitos simultaneamente.
Sem ninguém para registar e contar as suas histórias, as suas tragédias e os seus mortos, os milhares de vítimas dessas guerras discretas em lugares remotos é como se não existissem. Muitas vezes nem sequer são um número numa estatística qualquer.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

No ano passado, os EUA invadiram também o Haiti sem que fosse quase noticiado.

Isto veio depois de uma disputa entre os EUA e a França em que a França esteve melhor que os EUA. A França esteve melhor porque exigira já duas semanas antes da invasão americana que estes invadissem enquanto os EUA esperaram que o Aristides saísse.

Talvez a Imprensa não quisesse confundir as pessoas. Afinal, estava a França a defender a não-ingerência num lado e, no outro, faltando-lhe os meios próprios, pedia aos EUA que interviessem?

3/15/2005 12:29 da tarde  
Blogger BM said...

De qualquer forma, se a França fizesse uma intervenção directa, seria acusada de violar a doutrina Monroe (o que não seria a primeira vez de resto...), e então é que as batatas fritas nunca mais deixavam de ser freedom fries.

3/15/2005 5:03 da tarde  

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