segunda-feira, outubro 24, 2005

Pequena questão/reflexão antes do "xixi, cama"

Traduzindo para o "vernáculo", sem me dar ao trabalho de relembrar e escrever o "texto de origem", ie, as equações e afins(portanto, sem querer também que leitores mudem de leitura logo na primeira linha), em física, os objectos valem mais em associação do que isolados. Dito assim, parece a conclusão mais evidente do mundo, mas se se pensar que isto quer também dizer que, por exemplo, o Sol "pesa" mais do que a soma de todas as partículas constituintes individuais, talvez já não seja tão trivial. Isto acontece porque a este nível (atómico, sub-atómico...), a energia dum sistema AB é a soma da energia de A, de B e da energia de interacção. E sendo este o centésimo ano do famoso artigo de Einstein, toda a gente já deve saber que existe uma equivalência massa-energia traduzida por uma famosíssima equação...
Ora, também nós somos constituidos por matéria, milhões e milhões de células, moléculas e átomos. Penso que no "Cosmos", o Carl Sagan divertiu-se até a calcular qual o valor comercial dum corpo humano (x litros de água, y kg de carbono, etc.), tendo chegado a um valor que não recordo, mas na ordem duns poucos dólares. Pondo de lado fantasias literárias do séc. XIX, a questão essencial é que (ainda) ninguém é capaz de pegar na matéria-prima e fazer uma pessoa, pelo que se pode realmente dizer que o preço dum ser humano é (por enquanto, volto a dizer) incalculável. Pelo menos vivo, já que morto parece que custa uns 100 mil dólares. (A retalho. Deve haver desconto para comprar por peça inteira...)
Também nós somos portanto muito mais do que a soma de todas as nossas partículas. Aliás, o corpo humano deve ser o objecto em que a diferença entre o antes e depois, a nossa energia de interacção digamos, é de longe a maior de todo o universo conhecido.

Um quark, um átomo, uma molécula não têm consciência, não riem, não sentem, não amam, não choram, não sofrem, não pensam, não se questionam. Nós sim, nós temos uma alma ou uma consciência (caso a palavra alma, excessivamente conotada com a religião, vos faça, por isso, soar os alarmes). Essa consciência, a "qualidade subjectiva da experiência" de acordo com a caracterização de David Chalmer, é então o quê? O sopro divino? Nesse caso toda a introdução acima é uma curiosidade sem interesse, embora redimida pela fantástica segurança da separação entre corpo e alma, de que a imortalidade da última é quase o corolário lógico. Ou é o produto mais sublime duma interacção incrivelmente organizada e complexa: o nosso corpo, e em particular o nosso cérebro, ie, de pó e água? E se assim for, qual é a diferença conceptual entre corpo e consciência/alma? A partir de que nível é que aquele gera esta, e nós nos relacionamos uns com os outros tomando-a como inata e natural? Para já, uma resposta simples e em certa medida lógica, é de que a experiência qualitativa não existe, é uma cadeia de ilusões.
Isso é assustador, e no fundo, todos sabemos não é verdade. Para ir mais além e obter outras respostas creio que precisamos, no entanto, ou duma nova ciência ou duma velha fé.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bruno,

Visita o meu blog em
http://pensamentototal.blogspot.com

Abraço,
Nuno.

10/24/2005 3:43 da manhã  
Blogger ana said...

uau
pois, não sei
a consciência é uma maior memória das emoções que fomos sentido?
sei lá sei lá

10/24/2005 5:53 da tarde  

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