sexta-feira, janeiro 06, 2006

As pilhas do Mundo

No princípio era cada um por si. Depois alguns começaram a associar-se em grupos e clãs. Mais tarde apareceu o Homo sapiens e surgiram cidades e países. Entretanto, as cidades e países mais poderosos conquistaram os mais pequenos e chamaram-se impérios. Finalmente, veio a ideologia da auto-determinação, e o mundo tornou-se um lugar melhor e mais bonito.
Ou não?
A verdade é que é muito bonito falar de independência e desígnios nacionais, mas o mundo tem um defeito de fabrico: não é homogéneo. Por alguma razão obscura (mas não são imperscrutáveis os desígnios divinos?), parece que há regiões de clima e recursos abençoados, e outras que no plano inicial deviam servir para albergar os desgraçados da família Caim. Como nunca parámos de fazer filhos, até os honestos Abéis (não confundir com guradas Abéis) tiveram de se espalhar por todo o lado. Eis-nos então chegados à nossa triste situação: condenados a importar gás natural da Argélia e petróleo do Médio Oriente. Como é que se pode então falar de independência se dezenas e dezenas de países no mundo não são viáveis sem os recursos energéticos que outrem, muito piamente, lhes vende? No mundo moderno, falar de independência política per se é um simpático romantismo, mas a questão vital é a da independência energética. E nisso, nós em Portugal, somos muito pouco independentes. Temos uns empreendimentozitos hídricos e eólicos, mas se não fosse o gás natural para acender o fogão e o petróleo para queimar em Sines e atestar o depósito, bem podíamos ir à lenha e atrelar os bois.
Claro que ninguém é parvo, e as nações há muito tempo repararam nisso, especialmente aquelas que são mais desenvolvidas e simultaneamente mais dependentes, ie, a Europa Ocidental. E se o público que anda de metro e toma banho todos os dias de manhã, nunca tinha parado para pensar nisso, pelo menos para lá dos Pirinéus, na Europa desenvolvida digamos, devem ter finalmente parado para pensar nisso esta semana, quando se descobriu que devido à guerra do gás entre a Gazprom (leia-se Kremlin) e a Ucrânia (leia-se Revolução Laranja), a pressão no gasoduto que leva o gás natural da longíqua Rússia para a Europa Central diminui consideravelmente. Ou seja, havia menos gás a circular. Nós por cá, confortavelmente sentados no topo do nosso negócio de gás com a Argélia, esse estável e respeitável estado do Magreb, nem reparámos.
De há uns anos a esta parte, a Europa tem então investido um pouco nas energias renováveis, mais nalguns países que noutros (que nisto do vento e do Sol passa-se o mesmo que com o gás, o petróleo e os boys, a distribuição é anisotrópica). Na Dinamarca, por exemplo, quase metade da energia eléctrica consumida é obtida em geradores eólicos no Mar do Norte. Por cá, é o que se sabe.
O que importa dizer no entanto, é que, mesmo que se cubram todos os telhados com células fotovoltaicas e todos os cabeços sem ermidas com geradores eólicos, dificilmente deixaremos de depender de alguém, para além de que ninguém está disposto a esse investimento, especialmente no que à energia solar diz respeito...
É, pois, minha convicção que a Europa e Portugal têm que pensar seriamente numa certa opção, mesmo que essa não seja a única (e não digo que deva ser, acho muito bem que se invista e se procurem novas e melhor soluções a nível de energias alternativas, de preferência articuladas com a indústria): o nuclear!