sexta-feira, janeiro 06, 2006

Requiam pela Palestina

Por estes dias assistimos à maior orgia mediática sobre o estado de saúde duma pessoa desde a morte de João Paulo II há quase um ano. É Ariel Sharon, o polémico general, político e primeiro-ministro israelita que, depois dum "ligeiro AVC", expressão popularizada pelo Eliseu há uns meses, teve agora um "grave AVC" e encontra-se em estado bastante crítico, senão mesmo às portas da morte. Parece que só um milagre é que o fará voltar à política activa, e disputar as eleições gerais de Março com o seu novo partido centrista, o Kadima. Embora ainda esteja tudo muito a fresco, e uma sondagem indique inclusive que o Kadima ganhará mesmo sem Sharon, custa a crer que nada mude nos próximos dois meses. Quem o sabe e tem a benificiar mais com a ausência do carismático primeiro-ministro, na minha opinião pessoal a personalidade do ano em 2005 e o mais importante líder de Israel desde Rabin, ou mesmo desde Ben-Gurion, são obviamente Netanyahu, e o Hamas e demais radicais palestinianos. Nenhum deles, especialmente os últimos, deseja uma evolução positiva do conflito e uma solução para a Palestina. Numa ironia da História, com a degradação da condição clínica de Sharon, o "carniceiro de Chatila", é também a possibilidade dum futuro menos sombrio para a Palestina a médio prazo que parece expirar também, a cada informação duma nova hemorragia cerebral do primeiro-ministro, e a cada reacção de euforia do presidente do Irão a essas notícias.